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12'' trata da relação entre duas mulheres atadas pelas mazelas de um passado escravocrata. A memória de Alípia, uma centenária senhora de escravos, é um documento vivo que guarda segredos de crueldade e amor incondicional. Caiari por sua vez, uma estrela que brilha ao contrário, segundo Alípia, busca, através das memórias da velha companheira, desvendar os mistérios de seu passado, em um jogo de manipulação que revela nuances entre amor e ódio.
Encenada em uma casa, a história se amalgama a suas paredes, criando uma atmosfera vívida, na qual o espectador acompanha, entre um corredor cercado de árvores onde pia uma suindara, as duas personagens que ocupam, dentre vários cômodos, um quarto lúgubre, outro de calmos sonos, outro onde acontece a “brincadeira” dos 12 segundos e um refrescante banho.
O texto sugere uma quebra de paradigmas entre senhor e escravo, trazendo à tona aspectos da insurgência dos pretos pouco retratados na história, defrontados com sentimentos que podem ser uma estranha forma de amor por parte dos senhores. De além da preocupação para com dados históricos, se deflagram novas possibilidade de relações, que vão além da cor ou da crença, e que a autora trata numa trama de ficção científica sem intenção de redimir ou enaltecer ninguém: “Seremos bem piores” (frase de Caiari) explica um pouco isso. 
O texto, ao qual todo depoimento que vi se refere com surpresa e entusiasmo, juntamente ao trabalho das atrizes, que, em tempos das performances infelizmente vazias de sentido, persistem bravamente sendo exemplo de dedicação à arte de representar, sob a direção da própria autora, são testemunhos de que o teatro é capaz de converter um espaço de uma hora e quarenta da vida de pessoas desconhecidas em uma experiência de comunhão artística em uma realidade estética paralela, dentro de uma casa.

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